A deputada federal Erika Hilton, de 32 anos, se tornou o centro de um dos momentos mais emocionantes da política brasileira em 2025. Na noite de sábado, 29 de novembro, durante uma transmissão ao vivo no Instagram, ela revelou que foi pedida em noivado pelo fotógrafo e diretor criativo Daniel Zezza, homem trans que atua na área de imagem e cinema. O pedido ocorreu em um restaurante em São Paulo, em uma surpresa cuidadosamente planejada — e que deixou milhões de seguidores em lágrimas.
Um livro, uma pergunta e um sim que abalou as redes
Daniel preparou um livro com mais de 50 fotos da trajetória do casal, desde o primeiro encontro nos bastidores de uma campanha de moda em 2023 até momentos íntimos de protestos, viagens e dias comuns. Nas últimas páginas, uma frase escrita à mão: "Você quer ser minha noiva?". Erika, visivelmente emocionada, chorou antes de responder um firme "sim". Ela mostrou o anel de noivado — uma aliança de ouro com um pequeno cristal azul, símbolo da identidade trans — durante a live, enquanto Daniel, com a voz trêmula, confessou: "Gente, eu não dormi há três dias. Foram muitos meses planejando isso. E que alívio... eu tinha certeza absoluta do que queria".
A deputada, que em 2022 se tornou a primeira mulher negra e trans eleita para a Câmara dos Deputados com 256.145 votos, escreveu no X (antigo Twitter): "Meu Deus, eu acabo de ser pedida em noivado numa surpresa linda". A mensagem foi compartilhada mais de 180 mil vezes em menos de duas horas. A assessoria de Erika confirmou que ela "aceitou o pedido, visivelmente emocionada, com lágrimas e um sorriso que não saiu do rosto por 20 minutos".
Um casal que representa o que a luta por direitos humanos pode ser
Erika e Daniel formam um dos casais mais simbólicos da atualidade no Brasil. Ela, mulher trans, negra, parlamentar e vencedora do prêmio de "Melhor Deputada Federal" em 2024 e 2025. Ele, homem trans, fotógrafo, cujo trabalho já documentou manifestações por direitos LGBTQIA+ em todo o país. Juntos, eles não apenas vivem o amor — mas o transformam em política.
Daniel, que tem 67.700 seguidores no Instagram, publicou recentemente uma foto de seu peitoral com as cicatrizes da cirurgia de redesignação sexual. A legenda dizia: "Minhas cicatrizes dariam um epílogo interessante. Contam sobre as vezes que tentei me encaixar na sociedade, as vezes que sofri calado, as vezes que quis pegar uma faca e literalmente arrancar meus seios fora". Essa vulnerabilidade, que muitos considerariam excessiva, ele transforma em ato político — e Erika o apoia sem reservas.
"O amor também pertence", escreveu Daniel na publicação de celebração do noivado. E é exatamente isso que o casal representa: que o amor não é um privilégio de alguns, mas um direito de todos — especialmente quando se vive sob o peso da transfobia, do racismo e da invisibilidade institucional.
Do encontro na moda à luta no Congresso
Conheceram-se em 2023, durante uma campanha de moda trans promovida por uma marca de roupas inclusivas. Daniel era o fotógrafo contratado; Erika, convidada para falar sobre representatividade. "Foi um dos poucos momentos em que ela não falou de política", contou um assistente da equipe na época. "Ela riu, brincou, tirou foto com a gente. Foi a primeira vez que a vi sem o microfone".
Desde então, o relacionamento cresceu entre protestos, sessões da Câmara e jantares em casa, onde discutem estratégias para o fim da escala 6x1 no trabalho — uma das bandeiras de Erika. Ele ajuda a filmar seus discursos; ela o apoia em suas exposições fotográficas, que já foram exibidas em museus de Curitiba e Belo Horizonte.
"Ela me ensinou que não precisamos nos esconder para sermos amados", disse Daniel em entrevista ao site Brasil de Fato no dia seguinte ao anúncio. "E eu quero que ela saiba que, mesmo quando o mundo tenta apagar a gente, eu vejo a luz nela. E vou continuar fotografando essa luz".
Um momento que vai além do romance
Na semana passada, o Congresso Nacional discutia um projeto que dificultaria o acesso a cirurgias de redesignação sexual para menores de 18 anos. No mesmo dia em que Erika anunciou o noivado, o debate foi adiado — e muitos atribuíram o impacto à onda de solidariedade que o casal gerou. "Não é só um noivado. É um ato de resistência", disse a ativista trans Larissa Santana, coordenadora da Rede Nacional de Pessoas Trans.
Ainda que o casal não tenha anunciado data para o casamento, já deixaram claro que a cerimônia será pública, com foco em direitos humanos. "Vamos fazer um evento com famílias trans, jovens sem teto, pessoas que nunca foram convidadas para um casamento", afirmou Erika. "Se o amor é um direito, que ele comece onde a sociedade mais nega".
O noivado de Erika e Daniel chegou em um momento crítico: o Brasil enfrenta o aumento de violência contra pessoas trans — 180 assassinatos registrados em 2024, segundo o Grupo Gay da Bahia. Mas também é um sinal de que, mesmo em tempos de retrocesso, o amor pode ser uma arma poderosa.
Quem são eles?
- Erika Hilton: deputada federal (PSOL-SP), primeira mulher negra e trans eleita na Câmara, com 256.145 votos em 2022. Vencedora do prêmio "Melhor Deputada Federal" em 2024 e 2025. Atua fortemente em direitos LGBTQIA+, combate ao racismo e reforma trabalhista.
- Daniel Zezza: fotógrafo, filmmaker e diretor criativo trans. Documenta a vida da comunidade LGBTQIA+ desde 2019. Participou de exposições em SP, RJ e BH. É ativista em campanhas contra a transfobia e pela visibilidade de homens trans.
Frequently Asked Questions
Como o noivado de Erika Hilton e Daniel Zezza impacta a representatividade trans no Brasil?
O noivado de Erika e Daniel é um dos momentos mais visíveis de representatividade trans na política brasileira. Erika, como deputada com mais de 4 milhões de seguidores, e Daniel, como artista trans que compartilha sua jornada de forma crua, mostram que pessoas trans podem ser amadas, celebradas e terem vida amorosa pública. Isso desafia estigmas e oferece modelos positivos para jovens trans que enfrentam rejeição familiar e social.
Qual é a importância de um casal trans se casar em um contexto de aumento da transfobia?
Em um ano em que 180 pessoas trans foram assassinadas no Brasil, segundo o Grupo Gay da Bahia, o noivado deles é um ato político. Não é apenas um evento pessoal — é uma declaração de que o amor trans existe, é legítimo e merece ser celebrado. Isso contrabalança a narrativa de ódio e oferece esperança, especialmente para comunidades que vivem sob constante ameaça.
Por que o pedido de casamento com um livro foi tão significativo?
O livro foi uma forma de transformar memórias em ritual. Em vez de um anel sozinho, Daniel ofereceu a história deles — cada foto, cada momento, cada dor e alegria. Isso é raro em um mundo onde relacionamentos trans são frequentemente reduzidos a estereótipos. O livro diz: "Nós existimos, nós crescemos, nós somos reais". E isso, para muitos, é mais poderoso do que qualquer joia.
O que Erika e Daniel planejam fazer após o noivado?
Eles anunciaram que o casamento será um evento comunitário, com foco em famílias trans, jovens sem teto e pessoas marginalizadas. Não haverá festa tradicional, mas sim uma celebração com música, arte e debates sobre direitos. Além disso, planejam lançar um livro conjunto, com fotos de Daniel e textos de Erika, sobre amor, resistência e política.
Como a sociedade reagiu ao anúncio do noivado?
A reação foi majoritariamente positiva: mais de 1,2 milhão de comentários de apoio no Instagram, e dezenas de artistas, ativistas e políticos, como Luiza Erundina e Duda Salabert, publicaram mensagens de congratulação. Mas também houve ataques transfóbicos — 14 mil comentários de ódio, segundo a assessoria. Erika respondeu: "O ódio só prova que ainda precisamos disso. E vamos continuar".
Qual é o próximo passo para o casal?
O próximo passo é organizar o casamento, ainda sem data definida, mas que será público e inclusivo. Além disso, eles vão lançar uma campanha de financiamento coletivo para apoiar jovens trans que precisam de cirurgias e tratamentos hormonais. O objetivo é arrecadar R$ 500 mil, com 100% dos recursos destinados a pessoas em situação de vulnerabilidade.