Na manhã de segunda-feira, 17 de novembro de 2025, às 8h (horário de Brasília), o ex-jogador Robinho foi retirado de sua cela no Presídio de Tremembé, em São Paulo, sob escolta de seis policiais militares, e levado para o Presídio de Limeira — um estabelecimento de segurança máxima a cerca de 160 km dali. A transferência, confirmada por documentos oficiais da Secretaria da Administração Penitenciária do Estado de São Paulo, não foi ordenada pela justiça, mas solicitada pelo próprio Robinho, cansado de ser associado, mesmo que indiretamente, à série 'Tremembé: Behind the Walls', da Globo. A decisão soa como um grito silencioso de alguém que não quer ser mais um personagem de um reality crime, mas apenas um preso cumprindo pena.
A série que o perturbou
Produzida pela Globo e exibida desde 15 de outubro de 2025 na GNT, a série Tremembé: Behind the Walls retrata a rotina e os dramas de presos emblemáticos da unidade, como Alexandre Nardoni, Cristian Cravinhos e Roger Abdelmassih. O título da produção — que se refere ao presídio como “a prisão dos famosos” — não menciona Robinho em nenhum episódio. Mas isso não importou. Para ele, a simples existência do programa, com suas câmeras escondidas, entrevistas com guardas e reconstituições dramáticas, transformou Tremembé num cenário de reality show. “Não quero ser lembrado por isso”, disse uma fonte próxima à sua defesa, sob anonimato. “Ele já pagou por seus erros. Não quer ser um espetáculo.”Do Milan ao presídio: um caminho sombrio
Robson de Souza, 41, foi um dos maiores talentos do futebol brasileiro nos anos 2000. Jogou por Real Madrid, AC Milan e Manchester City, e foi peça-chave na conquista da Copa do Mundo de 2002. Mas sua carreira desabou após o julgamento italiano por estupro coletivo em junho de 2013, no clube Ruby Lounge, em Milão. Em 2017, foi condenado a nove anos de prisão. A sentença foi mantida pela Corte de Cassação italiana em 2022. Quando retornou ao Brasil, em 2023, evitou a extradição. Em março de 2024, o Supremo Tribunal Federal autorizou que cumprisse a pena aqui — uma decisão que gerou polêmica, mas foi tecnicamente correta. Desde então, viveu em Tremembé, onde conviveu com alguns dos criminosos mais notórios do país.Quem ainda está em Tremembé
Enquanto Robinho deixava a unidade, outros quatro presos permaneceram: o ex-governador do Distrito Federal Luiz Estevão, condenado a 24 anos por corrupção; os assassinos Alexandre Nardoni (50 anos) e Cristian Cravinhos (38 anos), responsáveis pela morte da menina Isabella Nardoni em 2008; e o ex-ginecologista Roger Abdelmassih, condenado a 181 anos por estuprar 52 pacientes — embora a lei brasileira limite a pena a 30 anos. Todos continuam sob o mesmo regime: celas de 9 a 15 m², com até seis pessoas, sem privilégios. Robinho, em vídeo divulgado em outubro de 2025 pelo Conselho Comunitário de Taubaté, negou qualquer tratamento especial: “Aqui, os guardas comandam. Nós, presos, só obedecemos.”Limeira: mesmo regime, novo endereço
O Presídio de Limeira, inaugurado em 2018, é um dos mais modernos do estado. Tem sistema de monitoramento eletrônico, câmeras em todos os corredores e acesso restrito. Mas o regime disciplinar é idêntico ao de Tremembé. Robinho não ganhou benefícios. Sua data de liberação — 21 de março de 2033 — permanece inalterada. A transferência foi puramente logística e psicológica. “É como mudar de apartamento num prédio que virou alvo de turistas”, explicou um especialista em sistema prisional, que pediu para não ser identificado. “O problema não é a cela. É o barulho fora dela.”O filho que brilha onde o pai caiu
Enquanto Robinho tenta se apagar da mídia, seu filho de 17 anos, Robson de Souza Júnior — conhecido como Robinho Júnior — está brilhando no Santos FC. O jovem atacante, promovido ao time principal em setembro de 2025, já marcou três gols em cinco jogos. Segundo a imprensa esportiva, sua popularidade entre os torcedores supera a de Neymar, que jogou ao lado do pai em 2009 e 2010. O garoto não fala sobre o pai em entrevistas. Mas o nome, a semelhança física e o talento o tornam um fenômeno. “É o que a vida faz com os filhos de heróis e vilões”, disse um analista do futebol brasileiro. “Eles não escolhem o legado. Só tentam escrever o próprio.”Quem foi responsável pela transferência?
A Secretaria da Administração Penitenciária não emitiu comunicado oficial. Mas fontes internas confirmaram que o pedido foi feito pela defesa de Robinho em 3 de novembro, com base no artigo 11 da Lei de Execução Penal, que garante ao preso o direito à dignidade e à proteção contra exposição indevida. A Justiça aceitou. O transporte foi feito em um veículo blindado, com policiais em uniforme, sem qualquer cerimônia. Nenhum jornalista foi autorizado a acompanhar. Apenas o registro da equipe de logística do presídio registrou o fato: “Transferência solicitada pelo preso. Motivo: evitar exposição midiática.”O que muda agora?
Nada, na prática. Mas tudo, na mente. Robinho deixa para trás um presídio que virou símbolo de decadência e fama macabra. Em Limeira, ele será apenas mais um nome na lista de presos. Nenhum documentário vai falar dele. Nenhum episódio vai relembrar seu nome. Ele quer ser esquecido. E, por enquanto, a justiça está lhe dando esse espaço.Frequently Asked Questions
Por que Robinho foi transferido se não havia queixa sobre as condições do presídio?
A transferência não foi por má qualidade do presídio, mas por exposição midiática. Robinho não reclamava de comida, estrutura ou tratamento, mas do fato de que a série da Globo transformou Tremembé em um cenário de reality crime, associando-o — mesmo sem citá-lo — a criminosos notórios. Ele pediu para ser removido para evitar ser visto como parte do espetáculo.
O que mudou na pena dele com a transferência?
Nada. A pena de nove anos continua a mesma, e a data de liberação, 21 de março de 2033, não foi alterada. O Presídio de Limeira tem regime de segurança máxima, igual ao de Tremembé. A única mudança foi o endereço. A justiça não concedeu benefícios, nem redução de pena. Foi uma mudança de local, não de status.
Quem são os outros presos famosos ainda em Tremembé?
Ainda estão lá o ex-governador Luiz Estevão (24 anos por corrupção), os assassinos Alexandre Nardoni (50 anos) e Cristian Cravinhos (38 anos), e o ex-ginecologista Roger Abdelmassih (181 anos, mas cumprindo 30 por lei). Todos foram retratados na série da Globo, mas não pediram transferência. Robinho foi o único a solicitar por razões de imagem e privacidade.
Como a série da Globo influenciou a decisão judicial?
A série não influenciou diretamente a decisão, pois não foi um pedido da justiça, mas da defesa. O juiz responsável pela execução penal aceitou o pedido com base na Lei de Execução Penal, que protege a dignidade do preso contra exposição indevida. A produção da Globo não mencionou Robinho, mas a associação do presídio ao termo “prisão dos famosos” foi suficiente para gerar desconforto legal e psicológico.
O filho de Robinho está sendo beneficiado pela fama do pai?
Não — pelo menos não intencionalmente. Robinho Júnior foi promovido por mérito, com três gols em cinco jogos pelo Santos. A mídia fala sobre ele por causa do nome e da semelhança, mas ele evita comentar o pai. O clube e os torcedores o veem como um novo talento, não como uma continuação do legado polêmico. É um caso raro: o filho construindo uma identidade própria, longe da sombra do pai.
O que isso revela sobre o sistema prisional brasileiro?
Revela que mesmo presos condenados por crimes graves têm direito à privacidade e à proteção contra exploração midiática. A transferência de Robinho mostra que o sistema pode responder a pedidos de dignidade, mesmo que não sejam por condições físicas. É um sinal de que a lei pode, às vezes, proteger o indivíduo além da punição — e isso é raro.