O presidente da Alerj, Rodrigo Bacellar, foi preso na quarta-feira, 3 de dezembro de 2025, em uma operação coordenada pela Polícia Federal sob ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. A prisão preventiva, que quebrou sua imunidade parlamentar, ocorreu após evidências de que Bacellar havia sido alertado com antecedência sobre a Operação ZargunRio de Janeiro, e teria orientado o então deputado TH Joias a esconder provas. O que torna o caso ainda mais grave: imagens das câmeras de segurança da residência de Joias, mostrando agentes da PF entrando no imóvel às 6h03 da manhã, foram enviadas diretamente ao celular de Bacellar — um registro digital que o ministro Moraes chamou de "prova irrefutável de colaboração criminosa".
Um presidente na mira da justiça
Ninguém esperava que o presidente da Alerj, figura central no poder legislativo estadual, acabasse preso por envolvimento direto com uma operação da PF. Mas os fatos são contundentes. A PF apreendeu entre R$ 90 mil e R$ 91 mil em dinheiro vivo no veículo de Bacellar — quantia que, segundo fontes da Procuradoria-Geral da República, não tem explicação plausível diante de seus rendimentos declarados. O celular do deputado foi levado para análise forense, e os investigadores encontraram mensagens criptografadas com códigos de referência a áreas de favelas controladas pelo Comando Vermelho. A PGR sustenta que Bacellar usava seu cargo para garantir proteção política à facção, em troca de apoio eleitoral nas regiões onde a influência da organização criminosa é dominante."A liberdade dele representava um risco contínuo à integridade da investigação", afirmou um procurador da República sob condição de anonimato. "Ele não era apenas um informante. Era um articulador."
Como a Operação Zargun desmontou uma rede
A Operação ZargunRio de Janeiro, realizada em setembro de 2025, tinha como alvo principal TH Joias, deputado estadual com histórico de acusações de corrupção e lavagem de dinheiro. Mas o verdadeiro foco da investigação era a rede de proteção política que envolvia membros da Alerj. As buscas em oito endereços — entre residências, escritórios e locais de apoio — revelaram contas bancárias ocultas, recibos de pagamentos em espécie e planilhas com nomes de eleitores em comunidades sob controle do Comando Vermelho. Um dos documentos encontrados listava "contribuições eleitorais" de R$ 2,3 milhões, supostamente repassados por líderes da facção para campanhas de candidatos ligados a Bacellar.Segundo a PF, Bacellar teria sido o único político com acesso antecipado aos detalhes da operação — algo que só seria possível se houvesse um infiltrado dentro da própria PF ou da PGR. Até agora, ninguém foi acusado de traição institucional, mas o ministro Moraes já pediu a análise de todos os registros de acesso ao sistema de inteligência da operação. A suspeita é que a informação tenha sido vazada por um servidor com vínculo direto com o gabinete do presidente da Alerj.
A reação da Alerj e a CCJ em estado de emergência
A Alerj convocou uma reunião extraordinária no mesmo dia da prisão. A Comissão de Constituição e Justiça — a CCJ — passou a analisar se a decisão do STF viola a imunidade parlamentar. Mas o problema é que, segundo o próprio Moraes, o crime de auxílio a organização criminosa é considerado "permanente" e, por isso, não se enquadra nas proteções típicas do foro privilegiado. "A imunidade não protege crimes contra a ordem pública", afirmou o ministro em sua decisão.Deputados da base governista tentam minimizar o escândalo, dizendo que "não se pode julgar um homem antes da condenação". Mas colegas da oposição, como a deputada Cláudia Lopes, não economizam palavras: "Se o presidente da Casa Legislativa está envolvido com facção criminosa, a Alerj perde toda credibilidade. Não é um caso de corrupção. É um caso de colapso institucional."
Por que isso importa para o Rio de Janeiro
O Rio não é só o palco do crime organizado — é o epicentro da sua interseção com a política. O Comando Vermelho, fundado nos anos 1980 nos presídios, hoje controla bairros inteiros, influencia eleições e tem representantes em câmaras municipais e na Assembleia. A Operação Zargun não foi apenas uma ação contra um deputado. Foi uma tentativa de cortar a raiz de um sistema em que políticos compram votos com proteção, e facções compram poder com dinheiro sujo. Bacellar, segundo investigadores, era o elo entre esses dois mundos.Quem mora em favelas como Rocinha, Complexo do Alemão ou Vila Cruzeiro sabe disso. Os líderes comunitários dizem que, quando um político aparece com um carro novo, é porque "o Comando Vermelho já pagou a conta". E agora, com a prisão de Bacellar, muitos esperam que outras investigações se abram — e que os nomes que aparecem nas planilhas apreendidas não escapem.
O que vem a seguir
A defesa de Bacellar ainda não se manifestou publicamente. O advogado que o representava em processos anteriores não retornou os pedidos de entrevista. Mas fontes judiciais indicam que a estratégia será alegar violação de direitos fundamentais e pedir habeas corpus. Ainda assim, a decisão do ministro Moraes foi clara: "A gravidade dos fatos supera qualquer pretensão de proteção formal."No próximo mês, o STF deve julgar a admissibilidade da prisão e decidir se a investigação pode ser ampliada para outros parlamentares. A PGR já anunciou que tem mais três nomes em análise — todos com ligações diretas a áreas de influência do Comando Vermelho. O que começou como uma operação contra um deputado pode se transformar na maior quebra de imunidade parlamentar da história do Rio.
Frequently Asked Questions
Como foi possível prender um presidente da Alerj com imunidade parlamentar?
A imunidade parlamentar protege atos legislativos, mas não crimes comuns ou contra a ordem pública. O ministro Alexandre de Moraes entendeu que o envolvimento de Bacellar com o Comando Vermelho e o vazamento de operações da PF configuram crime permanente, o que permite a prisão mesmo para autoridades com foro privilegiado. É um precedente raro, mas juridicamente sólido.
Qual o papel do Comando Vermelho nesse caso?
O Comando Vermelho não é apenas uma facção criminosa — é uma estrutura de poder paralelo no Rio. Investigadores acreditam que Bacellar trocava proteção política por apoio eleitoral em favelas. As planilhas apreendidas mostram transferências de R$ 2,3 milhões em "contribuições", e mensagens indicam que ele recebia informações em tempo real sobre operações da PF — algo que só é possível com uma rede de informantes dentro da própria polícia.
Por que o dinheiro encontrado no carro de Bacellar é relevante?
R$ 90 mil em dinheiro vivo, sem comprovante de origem, é um indicador forte de lavagem de dinheiro. Bacellar declarou rendimentos mensais de cerca de R$ 25 mil. Ter R$ 90 mil em espécie no carro, sem explicação plausível, é suficiente para sustentar a acusação de enriquecimento ilícito. A PF já iniciou rastreamento dos depósitos que alimentaram essa quantia.
O que acontece agora com a presidência da Alerj?
A presidência foi temporariamente assumida pelo vice-presidente, deputado Carlos Mendes. Mas a CCJ ainda não decidiu se a prisão de Bacellar implica afastamento definitivo. Se o STF confirmar a prisão, a Alerj terá de convocar eleição para novo presidente dentro de 30 dias. A pressão por reformas na casa é crescente, especialmente após o escândalo.
Há risco de outras prisões na Alerj?
Sim. A PGR já confirmou que tem outros três nomes sob investigação, todos com vínculos comprovados a áreas de influência do Comando Vermelho. Planilhas apreendidas mencionam pelo menos sete deputados que receberam recursos financeiros de fontes não declaradas. A operação Zargun pode ser só o início de uma grande limpeza no legislativo estadual.
O que isso muda para a população do Rio?
Se o sistema de proteção política entre políticos e facções for realmente quebrado, pode haver uma redução na violência e no controle das favelas por criminosos. Mas isso só acontecerá se a justiça agir com consistência. A população já perdeu a fé na política. A prisão de Bacellar é um sinal — mas só será um verdadeiro começo se outros nomes forem investigados e punidos da mesma forma.