Whitney Wolfe Herd tenta bloquear filme 'Swiped' da Disney+

Um filme sem consentimento

Quando a notícia de que sua trajetória seria transformada em tela chegou ao seu e‑mail, Whitney Wolfe Herd ainda não tinha assistido ao trailer completo de Swiped. A biógrafa de Hollywood já tinha o roteiro nas mãos, os atores escolhidos e as filmagens em ritmo acelerado. Para a fundadora da Bumble, que tem 35 anos, a notícia foi tão inesperada que recorreu a um advogado na tentativa de parar a produção.

Em entrevista à CNBC, Wolfe Herd conta que, ao descobrir o plano, perguntou ao seu representante legal se havia como “mandar tudo pro saco”. A resposta, porém, foi clara: como figura pública, sua vida já faz parte do domínio público, e a lei permite que estúdios usem fatos conhecidos para criar obras ficcionais. O que a impede, ao menos juridicamente, é a divulgação de informações pessoais que não estejam já disponíveis ao público.

Do Tinder ao topo da bolsa

O longa‑metragem, dirigido por Rachel Lee Goldenberg, traz Lily James no papel da empreendedora. James, conhecida por interpretar personagens fortes, sentiu que a história de Wolfe Herd era “imperdível” porque mostra como uma mulher pode prosperar num nicho dominado por homens. O filme começa com o início da carreira de Wolfe Herd no Tinder, onde participou da concepção do aplicativo que mudou a forma como as pessoas se conhecem online.

Um ponto de virada da narrativa ocorre em 2014, quando Wolfe Herd moveu um processo de assédio sexual contra o então co‑fundador da empresa, Justin Mateen. O caso, muito divulgado na mídia, acabou por causar sua saída do Tinder. Ao contrário do que alguns críticos especularam, o filme não se limita a dramatizar o conflito; ele mostra também a decisão corajosa de criar um novo serviço de encontros, o Bumble, que introduziu a regra de que somente as mulheres podem iniciar a conversa.

O sucesso do Bumble foi explosivo. Em 2021, a empresa abriu capital na bolsa de Nova York, tornando Wolfe Herd a primeira mulher a levar um aplicativo de encontros ao mercado de ações e, ainda mais, a mulher mais jovem a se tornar bilionária de forma autônoma, aos 31 anos. Esses marcos são retratados no filme como um contraponto ao período de adversidade que ela enfrentou.

Mesmo estando desconfortável com a ideia de ver sua vida contada por terceiros, Wolfe Herd admitiu que considerar Lily James no papel foi “uma honra”. Ela ainda não assistiu ao filme na íntegra, mas afirmou que a escolha da atriz a fez sentir que, apesar de tudo, sua história será contada com respeito.

Além de destacar a trajetória empresarial, Swiped também aborda questões mais amplas sobre o ambiente de trabalho no setor de tecnologia, o assédio que ainda persiste e a necessidade de maior representatividade feminina nos cargos de liderança. O filme estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto antes de chegar ao Disney+ e ao Hulu em 8 de setembro de 2025.

O caso de Wolfe Herd levanta um debate importante: até que ponto celebridades e líderes corporativos podem controlar a própria narrativa quando o interesse das produtoras cinematográficas está em contar histórias que já são parte da cultura popular? Por enquanto, a fundadora da Bumble permanece observando de fora, enquanto o público tem a chance de conhecer, através da ficção, a jornada de uma das mulheres mais influentes da era digital.